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"Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito..."

sábado, 5 de junho de 2010

Colapso

Uma série de documentários e de programas foram exibidos no canal Futura por conta da Semana do Meio Ambiente. Escrevo esse post após assistir ao documentário "O Dia da Terra", um documentário que conta a história do desenvolvimento do movimento ambientalista norte-americano. O documentário conta com os depoimentos de grandes cientistas e de ambientalistas norte-americanos, bem como a luta diária travada pelos mesmos para tentar mudar a "lógica" desse sistema no qual vivemos. Na década de 70, eles foram responsáveis pela organização do Dia da Terra, uma mobilização social dos EUA para o mundo em prol do desenvolvimento de uma consciência ecológica.

Uma frase interessante dita logo no começo do documentário por um congressista foi "Nós não herdamos a Terra dos nossos antepassados, nós a pegamos emprestada dos nossos filhos". Muito se discute sobre o desenvolvimento sustentável, sobre a introdução de energias renováveis na matriz energética mundial e etc., MAS enquanto os problemas ambientais crescem em progressão exponencial (ainda que uma meia dúzia de céticos insistam em descredenciar as estatísticas assustadoras de mais de 1000 cientistas do IPCC), a implementação de políticas ambientais desenvolve-se em progressão aritmética e a nossa geração, mais do que todas as outras, está com o destino do planeta em suas mãos.

A verdade é que as políticas sustentáveis esbarram na falácia governamental e nos interesses econômicos das grandes corporações. Os governos adoram levantar a bandeira das energias limpas, mas travam guerras por poços de petróleo; discursam a favor do desenvolvimento ecologicamente correto, mas, na prática, resistem à uma inevitável reestruturação, mais cedo ou mais tarde, de um sistema político-econômico ineficaz que sacrifica o planeta. A prova disso é o fracasso da Conferência de Copenhague. Embora insistam que não, nossos governos são tão céticos quanto os "cientistas" que tentam provar que nada pode nos afetar.

Nosso sistema é sustentado pelo consumo desenfreado. Como foi abordado no documentário The Story of Stuff, a mídia cumpre o seu papel de nos fazer comprar cada vez mais, porque diz que nós somos incompletos e precisamos desesperadamente daquela geladeira ou daquele carro para sermos nós mesmos. As indústrias fabricam produtos cada vez mais descartáveis, para serem rapidamente consumidos por pessoas descartáveis. A matéria-prima é depredada sem qualquer preocupação com os efeitos gerados à natureza e, consequentemente, a nós mesmos ("tudo que vai, volta", também acredito nessa frase).

Como dito pela apresentadora Annie Leonard, o sistema capitalista segue a seguinte lógica linear...
"EXTRAÇÃO (subentende-se destruição do meio ambiente) --> INDUSTRIALIZAÇÃO --> LOJAS, SUPERMERCADOS E OUTROS MEIOS DE DISTRIBUIÇÃO --> CONSUMO --> LIXO.

... mas nós vivemos em um planeta com recursos finitos e que não consegue acompanhar essa linha predatória de "desenvolvimento".

Fonte da imagem: http://www.institutoaqualung.com.br/

Mudanças efetivas poderiam ser implementadas. Não me refiro a tentar viver 1 dia sem plástico (essa é pra uma pessoa que adora dizer em sala de aula "vocês querem saber? as pessoas não ligam para o planeta e não há mais solução") ou a parar de produzir lixo (isso é impossível). Refiro-me a uma mudança gradual de nossos hábitos destrutivos e ecologicamente insustentáveis, porque não há como destruir ou mudar instantaneamente um sistema de produção que é a base das últimas seis gerações.

Em vez de descartar milhões de toneladas de lixo em países periféricos, muitos produtos poderiam ser reaproveitados ou então utilizados por mais tempo. Em vez de desenvolver um uso irracional dos recursos que temos, em vez de fabricar produtos rapidamente descartáveis, o que deveria ser REALMENTE descartado é qualquer forma de pensamento ou de ideologia comercial que não priorize o manejo sustentável.

Em São Paulo, que com o clássico entupimento de bueiros e de esgotos sofre com as enchentes, um homem conhecido como "Homem-Refluxo" saiu vestindo uma capa de chuva pela cidade e nesse traje ele guardou todo o lixo que consomiu por uma semana em vez de jogá-lo na rua. Essa iniciativa tentava mostrar aos paulistanos que eles devem repensar sobre a quantidade de lixo que produzem e o descarte do mesmo em locais inapropriados, ressaltando que não podemos ignorar o lixo, como se depois que o jogamos fora ele desaparecesse e pudessemos continuar a consumir e consumir e consumir para sempre.

Precisamos mudar nossa mentalidade. Na década de 70, um grupo de ambientalistas conseguiu sacudir a sociedade norte-americana e fazê-la refletir sobre seus hábitos de consumo. Eles o fizeram sem as facilidades de comunicação que temos hoje. A nossa geração não é menos idealista que as passadas, apenas nossos campos de batalha saíram das ruas para os fóruns virtuais, para as comunidades e para as redes sociais e uma mobilização em massa é facilitada por essas ferramentas. 

Então, concluo esse post com uma indagação: É realístico e potencialmente possível que as mais de 6 bilhões de pessoas existentes no planeta alterem rapidamente seus hábitos de consumo e o modo de vida a que foram acostumados? Não. MAS, acredito que é questão de tempo até que as mudanças ambientais atraiam os holofotes para si e que se tornem o "carro-chefe" das políticas governamentais. Resta saber se a Terra suportará essa insustentável existência humana por mais tempo.

1 comentários:

Unknown disse...

Muito legal o que você escreve, Bia. Adorei! :D

Primeiramente, é importante que se entenda que a problemática ambiental não é intrínseca à ação humana e sim ao sistema capitalista de produção.

Quem disse que todas as sociedades NECESSARIAMENTE convergem ao capitalismo?
Os indivíduos Homo Sapiens já se organizaram em grupos estabelecendo outros modos de produção, que ao todo são 6: primitivo, asiático, escravista, feudal, capitalista e comunista
(este último é teórico, fruto de um esforço intelectual por parte de pensadores como Marx que analisaram os sistemas anteriores, suas falhas e projetaram uma sociedade igualitária, racional e livre de crises econômicas cíclicas e autogeradas do capitalismo, que repercutem econômica e socialmente tornando pressuposto o conflito de classes).

A mudança de um modo de produção para outro não segue uma linha lógico-progressista. Desde quando o capitalismo é mais lógico que o comunismo?

O fato de vivermos nele é consequência direta da consensual adesão (pressionada pela burguesia) dos países do Atlântico Norte em adotá-lo após a crise da URSS, como afirma Hobsbawn, um dos mais influentes intelectuais e comunistas da atualidade.

Só escrevi as linhas acima para deixar claro que a falta de interesse pela questão ambiental dos atuais governos NADA tem a ver com o "fato" de o consumismo ser um comportamento vital ao homem. Não, o consumo é relacionado com o sistema de produção no qual a sociedade está inserida.

A questão ambiental tem relação direta com um dos pré-requisitos capitalistas: a privatização dos meios de produção. Grandes empresas têm POSSE sobre jazidas de petróleo, minérios, áreas florestais etc. Se a exploração desses recursos traz prejuízos para o coletivo cabe a quem policiar? O Estado.

Eu mesmo já me perguntei: Porra, por que os governos simplesmente não decretam ilegal extrair petróleo e ponto final? Todos aqueles empregados direta ou indiretamente no mercado desse recurso seriam remanejados pouco a pouco para trabalhar no mercado dos recursos renováveis.

Eis o problema: renováveis. O mercado de recursos renováveis não comporta a crescente demanda por empregos, não é tão amplo e competitivo como o seu antagônico. Desenvolvimento sustentável e capitalismo selvagem são incompatíveis, essa é a verdade. Isso explica por que não tem um governo que abra mão do crescimento econômico em prol do ambiente. Se tentarem fazer isso, as grandes empresas ameaçam demitir empregados, gerando caos social. O Estado capitalista é um boneco ridículo dos burgueses, bem diferente do Estado socialista, absoluto e dono dos meios de produção.

Li isto na wikipédia: “Alguns consideram que a implementação do desenvolvimento sustentável implica um retorno à estilos de vida pré-modernos “

Por que viver consumindo menos é abordado como se fosse um retrocesso? É um retrocesso do ponto de vista capitalista, sistema ilógico. Retroceder num sistema ignorante é ser racional.

Vixe, lembrei dessa frase: “À beira de um abismo, dar um passo atrás é seguir em frente”.

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